segunda-feira, 25 de outubro de 2010

MUROS AZUIS

Arte: Irving Greines



Sabe esses seres tristes que passam por aqui?
Esses rostos gastos que cruzam por mim?
Eles são a multiplicidade que reside em mim...

Há muros entre nós,
Paredes azuis de um lado
Paredes nuas do outro lado
De um lado os tijolos são estéticos
Do outro, cacos que poderiam ser abrigos


Há, entre nós, olhos que não se vêem
Apenas se cruzam entre os muros transparentes
Dentes brancos que não sorriem
Dentes amarelos que pouco comem

Há muros dentro de nós,
Caminhamos rente a eles
Desejamos espreitar por suas brechas
Ver como amam e sofrem os de lá
Talvez compreender...


Mas há uma Vª Grande Guerra dentro de nós,
Granadas azuis de um lado,
Soldados subnutridos do outro,
Nossos olhos se espreitam, se vêem...
mas não se cruzam!


Cernov

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Os Mortos Que Não Enterramos



Certa madrugada de lua em eclipse,
Calendário incerto,
(Talvez fosse Júpiter que projetasse aquela sombra...)
Nasceram os deuses!
Nos deram mel, água, fogo, abrigo,
figo, roda e chave de fenda...!

Numa tarde de horizonte aberto,
Calendário mantido em segredo,
Vieram as possibilidade do poder.
Nasceram os demônios!
Nos deram vinho, jogo de dados, a razão, o sexo,
carne, música e nietzsche...!

Noutra manhã de sol em eclipse,
Já num calendário provável,
Chegou o alfabeto e a contabilidade dos rebanhos.
Nasceram banqueiros e historiadores!
Nos deram moeda, couro, chips, circo,
idioma, nação e o tempo...!

Agora, na ampla noite, nos resta apenas as pornografias...
Grotescos rascunhos dos que nasceram e morreram.
Nos resta apenas religião, matemática, marxismo,
lixo industrial, a moral e os ossos...
... daqueles mortos que nunca enterramos!

Cer9!

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

"Amazônia em Chamas" Em Porto Velho


"Amazônia em Chamas" de Catia Cernov, seleção de contos, será lançado aqui em Porto Velho, neste Sábado, dia 16Out, às 19:00hrs, no Espaço Cultural Vrena. Mais detalhes no próprio convite.
Espero amigos e familiares para Noite Cultural - Poesia de Guerrilha e Literatura de Resistência.
Tragam poemas e a gente improvisa um Sarau por lá.
Levem instrumentos musicais que a gente garante um roda musical por lá.
Abraços a todos!!!

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Amazônia em Chamas lançado na Ação Educativa



Cernov Lança Livro no Ação Educativa - SP








O Selo Povo teve a honra de fazer mais um lançamento, dessa vez a escritora Catia Cernov veio direto de Rondônia e fez um lançamento histórico aqui em São Paulo, muita gente nos honrou com sua presença na Ação Educativa, numa noite muito bonita, onde a literatura fez a cena principal, muitos sorrisos, abraços e conversas positivas.








Agradecemos a todos os presentes, e agora é nos preparar para o próximo lançamento da Selo Povo.Abraços a Ação Educativa, ao Centro Cultural da Espanha, ao Eleison, Marcelo Martorelli, Alexandre de Souza, Thais e Paulo.até a próxima.






Um trecho do conto "Condomínios" do livro:


"É o medo que nos faz ficarmos presos aqui dentro, acossados feito bichos ameaçados. A possibilidade da perda nos apavora. A existência do desconforto nos aterroriza. Nos escondemos da miséria, construimos jardins ao nosso redor, para não lembramos que ela existe. Não comemos nada do que são plantados nesses canteiros e bosques privativos, apenas o contemplamos. Temos gostos nobres, exportamos o que comemos, tratamos a água que bebemos, e sempre poderemos pagar para que alguém de fora venha cortar as ervas daninhas que ameaçarem nossos jardins. Mas depois das flores estão as grades. E depois das grades tudo é prejudicial, violento, feio, desordenado, incapaz, doentio...Estamos ficando cada vez mais dependentes destas muralhas. Ocupamos grande parte de nossos dias trabalhando lá fora para nos manter aqui dentro. Quase toda nossa inteligência é utilizada para fabricar dispositivos de segurança, sistemas de vigilâncias, satélite de rastreamento, para treinar os guardiões dos portões. Damos duro para projetar os comportamentos desejáveis e gerarmos mais emprego: pois temos de evitar os desocupados que caso queiram pisar em nossos jardins. Nossas flores nos são muito caras.Também estamos ficando cada vez mais pálidos, corpos mais frágeis, adquirimos doenças do pânico, depressão, solidão. Mas não nos importamos muito com isso, concordamos com preço, podemos encomendar os remédios e muitos de nossos filhos estão estudando a cura. Aqui dentro nascemos aprendendo sobre o desprezo ao outro. E com o tempo desenvolvemos o desprezo sobre nós mesmos. E o medo nos une, o medo é que nos possibilita este isolamento, que projeta esses muros e justificam essas câmeras observatórias. Não ousamos enfrentar esse medo, porque pode haver um medo muito maior lá fora. Pois sempre há alguém, algum ressentimento, que ouse invadir nossos dispendiosos jardins.Aqui, a guerra não nos comove, não nos diz respeito. Rascunhamos máquinas, projetamos projéteis, fazemos as leis, construímos os presídios, fechamos os negócios e determinamos as fronteiras. Mas a guerra não nos diz respeito, não está em nossos quintais, são só temas da tv a cabo, delírios de videogame. Mantemos o exercito porque é preciso defender nosso território, nossa muralha, nosso direito á privacidade, ao bem estar, ao futuro de nossos filhos e a uma previdência decente. A segurança é a certeza de nosso destino. Depois disso nada existe, nada mais deve ser visto... "