domingo, 14 de outubro de 2012



Escrevo com lápis de carpinteiro
esse evangelho profano
Dilapido com a navalha
sua ponta quadrada com grotescas carrancas
e totens de povos pagãos
Cuido do vinho e piso a uva
de Noé embriagado
Destilo os ácidos
que dão forma e beleza ao corpo de Caim
Me deito na lua, me masturbo
e fecundo o útero de Lilith
Escrevo com lápis de carpinteiro
todas as palavras malditas
e os rascunhos que deus não permitiu
E porque o Senhor não permitiu
é que desenho com lápis de carpinteiro
a Babel dos sonhos dos esquecidos

Sudário de Da Vinci



No vão de cada parábola
Na orelha rota dos evangelhos
desenhei os protótipos do tempo
maqinas santas

Quis voar no céu da terra
Projetar sonhos que ainda viriam
(já tão concretos dentro de mim)

Abria novas cortinas
Sentia a promessa
Tinha sangue de profeta
E engenhos milagrosos

Mas não libertei ninguém
Não fiz voar seqer algum anjo mecânico

Ficou meu sudário tatuado na pele do tempo
No suor dos fabricantes de néons
No sangue das crianças das fábricas
Nos homens-maqinas que bebem vodka
Pra esquecer o dia de tanto trabalho

O futuro voou pra bem longe da liberdade
E cá estou, preso imagem nos manuais de impressoras
Nas linhas de montagem
Nos catálogos sagrados e no imperialismo das técnicas

Enquanto jesus morria uma madona sorria

segunda-feira, 10 de setembro de 2012


Primeiro eu comi seus olhos, 
depois seu sexo, cartilagens e digitais.
Cuspi o relógio, enforquei 
o filosofo em sua camiseta.
E com os ossos que escondi na calcinha 
montei outros mapas
e arqitetei novos planos
de amor e sangue.

Arkitetus


Plantas mamíferas
Formigas sativas
Rebanhos de cogumelos
Fragmentos de caos
Mosaicos prozaicus
Corpos qe brotam de almas errantes
Almas qe flutuam nas cavidades dos organismos
Teorias qe desmentem teorias
Budas profanus
Memórias subterrâneas
Magos do Caos
Ayuaska e ácidos dissolvidos nos pântanos da supraconsciencia

Vestidos ao vento
Varais de cristais
Janelas infinitas
Horizonte de eventos
Um copo líquido e um vinho sólido
Pra me roubar o descanso
E o descaso pelo acaso.

Façomundos doque esta ao meu redor
Caixas de sabãoempó manuais de impressoras
Com as fotografias do tempo e o resto de meu jantar
Construo pontesentre as rosas do parlamento
E os cactos das naçãofavelas
Desenho vitrais de metais nos qintais das fabricas
Depois reboco os muros com os grafitis de Merlin

Vago a mente entre os brilhos da Meskita
E mergulho no pleno vazio do Tao.
Por nunca ter sido puritan@
Me negaram o passaporte para o paraíso
Então nada mais restou senão
brincar nos jardins do inferno
E “Não sabendo bastante das coisas do Hades, delas não fugirei”
E foi lá que enfrentei um eu qe desconhecia
Me libertei dos conceitos
Paraíso e inferno implodiram em mim...

Bem vindo ao Admirável Mundo Próprio!

Chuva de gafanhotos em Nova Alexandria
Constructors
Geometria fractal
impErfeições
Na tenda dos aukimistas
Mental Kombat
Olhos mutantes
peixes industriais

Diagramas de Maldebort
Demônios de La Place
PCC, Comando Vermelho, CCP
Piratas da Rede
Ciberburacos-negros
Simulfluxo
O exército alfa e suas guerras pela paz
Anjos do Underground
Os desertores iluminados
Vírus Kerouac´s contaminando as arestas do sistema
Doces recheados de signos
Uma rave no deserto
Carmina Burana remix
A Ópera do Kuringa!

Deixem seus corpos, seus egos e seus pertences
No Portal de Órion
Cortem as cordas que atam as âncoras
Derretam as tesouras
Dissolvam os navios
Afoguem os automóveis
E os desejos que os conectem á redematéria

Liberte os objetos de sua mente...!

E se a gente se aventurasse no vazio quântico?
Se escutarmos a musica do nada?
Se enfrentarmos todos os nossos nãos?
Se nos amassemos nos escombros de bombas nucleares?
Se okuparmos os laboratórios
E plantarmos gerânios nos parágrafos da lei?
Será que a pureza ainda nos visitará?

Tanto faz
Nossa inocência e nossa potencia
Tanto faz
Nossa pele ou nossa máscara
Tanto faz

O universo é só um Holograma...!

Leve é o sono dos infantes
vasto o universo em seu qintal
peqenos e frágeis corpos
dormem sobre campos minados
onde nasce um arco-iris

- Tenho sapatos reformados, e tô dissposto a troca por papéis, praqe eu escreva a minha Istória. Mas os fabricantes de papeu devoram qalqer esperiência qui não seja a deles, qebram todas as janelas qe podem ser mundos; e destinam os papéus só pra qem escreve como Eles, pros qe falam a língua do senhor. Eles teriam vergonha di usar sapatos reformados, mas num se acanham qe na Historia deles brilha a graxa das botas de guerra!

Costela de Caim


Nunca matei meu irmão:
Compartilhei com ele de sua ira
Podia compreender seus medos, seu abandono, sua queda
Queria também que o Pai olhasse por ele
Por nós...

Abel impunha sua ordem:
E quem iria ousar falar do caos?
Qual dos filhos da terra sacrificaria seu nome
pra fazer sangrar um cordeiro?
Quem, entre nós, enfrentaria o exílio pra dizer
aos outros os segredos de Blake: “se eles não fossem os tolos, nós teríamos que ser”?

Houve um tempo, quando as montanhas ainda se moviam,
Que eu sonhava com um anjo exterminador:
Ele faiscava sua espada diante de meus olhos
Sua língua vulcânica engolia minhas mãos
Tive tanto medo, tanta culpa!
Então, numa tarde de descanso, ele se deitou ao meu lado e disse:
“Só os mais elevados espíritos podem suportar o exílio!”

Dizem os cronistas celestiais que quando o fogo purifica,
Quando dele brota alguma alma decaída que enfrenta a sua própria estupidez,
Uma legião de anjos aplaude a sua coragem!

Não foi por isso que nunca matei meu irmão
Nem por conta de sua costela que me concebeu
que nunca maldisse seu nome
Foi por respeito á sua existência que recuei o meu punhal da moral!

Ele, Caim!, o mais ousado, tão forte, contestou nosso Pai:
Questionou a preferência, o “povo escolhido”
Sujou suas mãos de terra, perdoou os vermes,
Provou do ópio, bebeu do sangue, destilou o álcool...
E eu lhe dei abrigo: matei sua sede curei sua ressaca esquentei sua comida
Lavei seus andrajos limpei suas feridas e saciei seus desejos de incesto...
Sua dor era minha, sua costela era eu.

Abel morreu
Caim sobreviveu
Eu, a irmã, nenhum Evangelista ousou citar.

E, no entanto, estamos todos aqui...!