segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

CRIANÇAS SELVAGENS

arte: Mark Ryden


Era uma vez um quintal muito engraçado:
Não haviam cercas nem mapas
Nem muros perfurados de balas
Ou aterros de lixo industrial.
Só olhos curiosos rabiscados pelas crianças teimosas
Gravuras transparentes que atraiam os anjos que cuidavam das flores...

Nesse quintal não havia nobreza nem miséria
Só crianças q não precisam crescer
estudar, trabalhar e inventar agrotóxicos.
Só a pureza cantava, a imaginação se transfigurava
e se configurava conforme eram os desejos da terra.
Então o universo lhes permitiam serem criadores
Percorrer campos de lírios com seus pézinhos sujos de chocolate...

Compartilhavam dos corpos, tocavam os sexos
Riam da naturalidade que do tempo emanava
Das coisas q se davam espontaneamente.
A luz se prismava de seus olhos selvagens
E as mãozinhas projetavam sombras nas paredes:
Reflexos de bichos ainda em estado de liberdade...

Nenhum poder havia ali ainda tocado
Nenhum jogo havia ainda sido inventado
As crianças saltavam sobre as pedras de açúcar
Desalinhavam os átomos para inventar guloseimas
Depois recombinavam os quantuns
E moldavam novos brinquedos...

Nenhuma ascenção e queda os assombravam
Ignoravam o destino dos reis
as doutrinas
as vergonhas
os mitos
Sequer cogitavam a supremacia dos desejos!
Primogênitos não catalogados,
As crianças brincavam nas praias de groselha
Erguiam e destruiam castelos de areia cósmica
Depois voavam nuas sob o céu de brigadeiro...

Cernov