quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O que lhe Desejo





Não luz, nada de paz, nem de tempo. 2012 não existe!
Nem convenções, festas, velas, bolo de natal

Quero pra ti tempestades, ciclones ao redor da mente
Um amontoado de crimes ideológicos para serem pisados
Uma agulha pra furar os tímpanos da manada
Uma faca pra cortar a garganta dos Senhores Supremos

Que em ti se dissolva o tempo, a terra, as escrituras, as raças
Que chova na cidade e encharque as repartições públicas
Embolore as leis, as doutrinas, as vestes dos padres, e tudo vaze por um bueiraco-negro
Quero pra ti um asfalto liso e as esquinas de vidro
em alta velocidade!

Beijos de plutônio...


C9

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

As Estrelas e as Luzes da Cidade





Luzes artificiais ofuscam a perspectiva da imensidão
As galáxias, inconcebíveis, lá em cima
Mas invisíveis aos homens aqui embaixo
Presos aos néons que eternizam a beleza das mercadorias.
Alienação de luz...

Toda poeira cósmica arrasta um bocado de nós,
Toda forma de poder contém nosso medo,
Toda célula reproduz a nossa vontade,
Todo quantun reconhece seu destino.

As luzes da cidade são nosso medo da escuridão
E as estrelas, nosso medo de revelação.
Somos carne e feixes de luz,
Queremos céu, queremos chão
Temos asas, temos tesão
Aos anjos oferecemos nossa alegria,
Aos demônios, nossa orgia
E para a terra deixamos nossas sementes:
luzes, neons, sombras, ilusões, projeções...
e outros rascunhos pixados nos muros.

Que importa as galáxias lá em cima?
Aqui, no centro da cidade, amamos sem pudor...!

Cernov

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Crianças Piratas







Era uma vez um quintal clandestino:
Camuflado de olhos angulares
Cercado de dentes e mentes armadas
E resguardado por navalhas de carne.
Ali, os sobreviventes da hecatombe da lei,
Reinventavam cercas muros e viadutos paralelos

Nesse quintal não havia culpa, mas também não havia perdão!
Só crianças que precisavam crescer
Roubar, matar e consumir narcóticos.
Todo sonho era distante, toda imaginação era maculada
E se configurava conforme eram as fatalidades da terra.
Então o universo lhes permitiam habitarem as esquinas
Terem seus corpos subnutridos e deformados pela história...

Compartilhavam dos restos, vendiam os sexos
Riam dos bêbados nus e do tempo que nunca passava
Das manchas que brotavam nos pequenos seios.
A treva se prismava de seus olhos piratas
E as mãozinhas empunhavam estiletes de prata:
Reflexos de bichos em estado de sobrevivência...

Nenhum poder havia deixado de ser experimentado
Todo jogo havia sido blefado
As crianças mergulhavam nas pedras de cracks
Desalinhavam a mente pra reinventar paraisos
Depois acordavam famintas
E deliravam brinquedos no asfalto quente...

Nenhuma ascenção e queda os impediam
Ignoravam moral etica
as filosofias
as ciências direito esquerdo
religião e educação
Sequer acordavam antes das dez!
Bastardos descalços,
As crianças brincavam nos pântanos de wall street
Estendiam suas mãos magras á Apolo 11
Depois despencavam nuas dos céus de outdoors...!


Cernov

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

CRIANÇAS SELVAGENS

arte: Mark Ryden


Era uma vez um quintal muito engraçado:
Não haviam cercas nem mapas
Nem muros perfurados de balas
Ou aterros de lixo industrial.
Só olhos curiosos rabiscados pelas crianças teimosas
Gravuras transparentes que atraiam os anjos que cuidavam das flores...

Nesse quintal não havia nobreza nem miséria
Só crianças q não precisam crescer
estudar, trabalhar e inventar agrotóxicos.
Só a pureza cantava, a imaginação se transfigurava
e se configurava conforme eram os desejos da terra.
Então o universo lhes permitiam serem criadores
Percorrer campos de lírios com seus pézinhos sujos de chocolate...

Compartilhavam dos corpos, tocavam os sexos
Riam da naturalidade que do tempo emanava
Das coisas q se davam espontaneamente.
A luz se prismava de seus olhos selvagens
E as mãozinhas projetavam sombras nas paredes:
Reflexos de bichos ainda em estado de liberdade...

Nenhum poder havia ali ainda tocado
Nenhum jogo havia ainda sido inventado
As crianças saltavam sobre as pedras de açúcar
Desalinhavam os átomos para inventar guloseimas
Depois recombinavam os quantuns
E moldavam novos brinquedos...

Nenhuma ascenção e queda os assombravam
Ignoravam o destino dos reis
as doutrinas
as vergonhas
os mitos
Sequer cogitavam a supremacia dos desejos!
Primogênitos não catalogados,
As crianças brincavam nas praias de groselha
Erguiam e destruiam castelos de areia cósmica
Depois voavam nuas sob o céu de brigadeiro...

Cernov

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Luzes no Abismo



Tudo que é óbvio enruga minha pele
Irrita minha índole
As várias variáveis do mesmo
Contaminam-me as veias
Causam febre e tremores.

Eu vi sedas e granadas nas estradas
Arranquei os cravos do não-pecador
Quebrei os vitrais da grande queda
E com os cacos rasguei meus pulsos.

Quis eu a morte digna
A vida intensificada.
Disse-me meu coração:
Encerra os livros
Esqueça as escrituras
E ponha-se no caminho!
Foi lá que aprendi a sangrar e gozar
Com insuperável intensidade.
Singrei tantos mares selvagens
Tantos continentes imaginários
Que me tornei borboleta
Morcego e fera.

Com mandíbulas de prata
Corroí as vertigens da lei
Com o fogo da língua
Submeti as serpentes encantadas.
Os néons não mais me seduzem:
São apenas gases nobres em tubos pré-fabricados
por mão-de-obra miserável!

Tudo que é vazio me atrai:
É terreno livre
Planície deserta
que espera ser preenchida.
E eu tenho sementes, minhas mesmas,
germinadas com chuvas interiores!

Sei amar minha solidão
Não temer meus ossos expostos,
Aprendi a costurar meu próprio joelho
Quando me arrebento nestes abismos de ecos profundos...

Cernov