quinta-feira, 23 de dezembro de 2010


A Lua pergunta à Cidade:

- Quantos de seus homens me notam?

A Cidade responde à Lua:

- Só os fabricantes de Neons...


Cernov
Inferno Paraiso
A Flor a Dor
Tudo está aqui
Nesse mesmo quarto de conceitos.

Cernov
Aqui
Nas ruínas dos poços de petróleo
Sopra um vento árido de passado
Que nem as folhas secas procuram

Cer9
Os corvos cansados
Meditam à sombra da lua
Sonham com os brilhos
Que os eclipses engolem

Cer9
Abutres em ritual
Giram ao redor do sol
Hesitam em devorar a carniça dos homens
Que cheira a lixo industrial

Cernov

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

ALICE


Arte: Mark Ryden

Não trago as flores nuas
Qe vestem minha ausência
Nem beijo os soldados feridos
Qe convalescem nos cantos da historia
Matei o príncipe imbecil
Qe seduziu minha infância.

Eu, eleita musa entre os poetas?
Não acreditem nisso!
Sou aqela qe cria
Porqe aprendi a destruir;
Sou irmã de Lúcifer; logo: a rebelde!
Aqela qe nega á costela
Porqe confia em seus próprios seios!

A doçura de minhas flores é efêmera
Minha primavera é hostil
Dos frutos de meu útero
Sangram sementes canibais
Com um olhar posso decepar
A cabeça de um pênis
Pois é sem a métrica
Qe julgo os valores...

Cernov

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

MITOS DE PASSAGEM

Ilustração: William Blake

Tudo corre velozmente pela janela do carro,
Eu dirijo o veículo, acelero no tempo
Deslumbro as paisagens, os rompimentos das barragens
(Rio dos budas, xivas, cristos e maomés)
Percorro a trajetória dos deuses
Ando sobre os corpos dos homens
Piso na supremacia dos césares
E despedaço as estruturas dos átomos.

Tudo corre velozmente pela janela de meu quarto
Eu sigo as estrelas, trafego no vácuo
Desvendo as fórmulas, as matrizes do tempo
(Aceno para newtons, einsteins, platãos e marxs)
Percorro o mapa das almas
Caminho sobre as existências
Levito na vacuidade da matéria
E destroço as probabilidades dos qantuns.

Depois de tudo isso eu nada sei
Nada guardei...
(os historiadores é q se ocupem de meus processos!)
Pois só me lembro qe caminhei
Rompi
Aprendi
Criei
Nada recusei
Destrui
Nasci
Morri
De tudo experimentei
Cuspi
Amei
Errei
Depois de tudo, transfigurei!
(os deuses morreram, as teorias perderam-se...
Só um pó de liberdade ali se deitou
E a vontade de inocência era meu maior segredo!)

Nas janelas dos carros
E nos qadros absurdos de meus qartos
Novas paisagens modularam-se
Uma profusão de dna´s chocaram-se com as galáxias
Outros eus ali nasceram e morreram
Zilhões de horizontes plasmaram-se.
Embora tudo parecesse tão essencial,
Tudo qeresse ser tão meu,
Com nada fiqei...
Pois só qeria mesmo é estar de passagem!

Cernov

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

MUROS AZUIS

Arte: Irving Greines



Sabe esses seres tristes que passam por aqui?
Esses rostos gastos que cruzam por mim?
Eles são a multiplicidade que reside em mim...

Há muros entre nós,
Paredes azuis de um lado
Paredes nuas do outro lado
De um lado os tijolos são estéticos
Do outro, cacos que poderiam ser abrigos


Há, entre nós, olhos que não se vêem
Apenas se cruzam entre os muros transparentes
Dentes brancos que não sorriem
Dentes amarelos que pouco comem

Há muros dentro de nós,
Caminhamos rente a eles
Desejamos espreitar por suas brechas
Ver como amam e sofrem os de lá
Talvez compreender...


Mas há uma Vª Grande Guerra dentro de nós,
Granadas azuis de um lado,
Soldados subnutridos do outro,
Nossos olhos se espreitam, se vêem...
mas não se cruzam!


Cernov

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Os Mortos Que Não Enterramos



Certa madrugada de lua em eclipse,
Calendário incerto,
(Talvez fosse Júpiter que projetasse aquela sombra...)
Nasceram os deuses!
Nos deram mel, água, fogo, abrigo,
figo, roda e chave de fenda...!

Numa tarde de horizonte aberto,
Calendário mantido em segredo,
Vieram as possibilidade do poder.
Nasceram os demônios!
Nos deram vinho, jogo de dados, a razão, o sexo,
carne, música e nietzsche...!

Noutra manhã de sol em eclipse,
Já num calendário provável,
Chegou o alfabeto e a contabilidade dos rebanhos.
Nasceram banqueiros e historiadores!
Nos deram moeda, couro, chips, circo,
idioma, nação e o tempo...!

Agora, na ampla noite, nos resta apenas as pornografias...
Grotescos rascunhos dos que nasceram e morreram.
Nos resta apenas religião, matemática, marxismo,
lixo industrial, a moral e os ossos...
... daqueles mortos que nunca enterramos!

Cer9!

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

"Amazônia em Chamas" Em Porto Velho


"Amazônia em Chamas" de Catia Cernov, seleção de contos, será lançado aqui em Porto Velho, neste Sábado, dia 16Out, às 19:00hrs, no Espaço Cultural Vrena. Mais detalhes no próprio convite.
Espero amigos e familiares para Noite Cultural - Poesia de Guerrilha e Literatura de Resistência.
Tragam poemas e a gente improvisa um Sarau por lá.
Levem instrumentos musicais que a gente garante um roda musical por lá.
Abraços a todos!!!

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Amazônia em Chamas lançado na Ação Educativa



Cernov Lança Livro no Ação Educativa - SP








O Selo Povo teve a honra de fazer mais um lançamento, dessa vez a escritora Catia Cernov veio direto de Rondônia e fez um lançamento histórico aqui em São Paulo, muita gente nos honrou com sua presença na Ação Educativa, numa noite muito bonita, onde a literatura fez a cena principal, muitos sorrisos, abraços e conversas positivas.








Agradecemos a todos os presentes, e agora é nos preparar para o próximo lançamento da Selo Povo.Abraços a Ação Educativa, ao Centro Cultural da Espanha, ao Eleison, Marcelo Martorelli, Alexandre de Souza, Thais e Paulo.até a próxima.






Um trecho do conto "Condomínios" do livro:


"É o medo que nos faz ficarmos presos aqui dentro, acossados feito bichos ameaçados. A possibilidade da perda nos apavora. A existência do desconforto nos aterroriza. Nos escondemos da miséria, construimos jardins ao nosso redor, para não lembramos que ela existe. Não comemos nada do que são plantados nesses canteiros e bosques privativos, apenas o contemplamos. Temos gostos nobres, exportamos o que comemos, tratamos a água que bebemos, e sempre poderemos pagar para que alguém de fora venha cortar as ervas daninhas que ameaçarem nossos jardins. Mas depois das flores estão as grades. E depois das grades tudo é prejudicial, violento, feio, desordenado, incapaz, doentio...Estamos ficando cada vez mais dependentes destas muralhas. Ocupamos grande parte de nossos dias trabalhando lá fora para nos manter aqui dentro. Quase toda nossa inteligência é utilizada para fabricar dispositivos de segurança, sistemas de vigilâncias, satélite de rastreamento, para treinar os guardiões dos portões. Damos duro para projetar os comportamentos desejáveis e gerarmos mais emprego: pois temos de evitar os desocupados que caso queiram pisar em nossos jardins. Nossas flores nos são muito caras.Também estamos ficando cada vez mais pálidos, corpos mais frágeis, adquirimos doenças do pânico, depressão, solidão. Mas não nos importamos muito com isso, concordamos com preço, podemos encomendar os remédios e muitos de nossos filhos estão estudando a cura. Aqui dentro nascemos aprendendo sobre o desprezo ao outro. E com o tempo desenvolvemos o desprezo sobre nós mesmos. E o medo nos une, o medo é que nos possibilita este isolamento, que projeta esses muros e justificam essas câmeras observatórias. Não ousamos enfrentar esse medo, porque pode haver um medo muito maior lá fora. Pois sempre há alguém, algum ressentimento, que ouse invadir nossos dispendiosos jardins.Aqui, a guerra não nos comove, não nos diz respeito. Rascunhamos máquinas, projetamos projéteis, fazemos as leis, construímos os presídios, fechamos os negócios e determinamos as fronteiras. Mas a guerra não nos diz respeito, não está em nossos quintais, são só temas da tv a cabo, delírios de videogame. Mantemos o exercito porque é preciso defender nosso território, nossa muralha, nosso direito á privacidade, ao bem estar, ao futuro de nossos filhos e a uma previdência decente. A segurança é a certeza de nosso destino. Depois disso nada existe, nada mais deve ser visto... "






sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Lançamento de "Amazônia em Chamas"

Ola Amigos! Com grande satisfação que informo o lançamento de meu livro, coletanea de contos, Amazonia em Chamas, que acontece dia 14 de setembro em São Paulo.
Em breve estarei de volta a Porto Velho RO, levando muitos exemplares para fazermos um lançamento por ai. Aguardem!
Um grande obrigado ao escritor Ferrez que acreditou na idéia e a concretizou com muito trabalho. E a todos os amigos e familiares de Porto Velho que também botaram fé nesta jornada.
Valeu a todos.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Homo Anime




Eram duas forças. Uma se manifestou num corpo alto, possuidor de força. A outra se manifestou em forma de mente, moldou um corpo pequeno, possuidor de inteligência. Ambos voluntariosos, competitivos, dispostos ao poder... e podiam moldar o real de acordo com suas perspectivas.

O corpo1 materializou um imenso martelo, no qual esmagou a cabeça de seu adversário. O corpo2, humilhado, vendo seus miolos esparramados no cenário ainda em branco, espremeu um ódio em seu olho esquerdo, que ainda pulsava.
O corpo1 moldou cadeira de praia, mar, vento, sombrero, um figurante que lhe veio servir um delicioso almoço. Pão, mortadela, tomate, peixe, pão, carne, alface, pão, milho, frango, 4 queijos, tudo que uma mente podia projetar para alimentar um corpo em processo de manifestação.
O corpo 2 recolheu seus fragmentos e se reformulou. Com seu olho esquerdo, sempre pulsante, observou a imensa bocarra que iria engolir toda aquela comida. A comida que nutriria a existência de seu inimigo... e também a sua, caso ela fosse roubada!
O corpo 2 manifestou velocidade, invadiu o espaçotempo entre a bocarra e a pilha de comida, e a devorou em milésimos de segundos. Depois ficou a rir da cara pasma do corpo1, assombrado de como aquela criaturinha tão pequena podia comer tamanho alimento e afrontar o seu poder.
O corpo1 materializou ressentimento, projetou um arma de fogo e voltou a estourar os miolos do corpo2. Um rosto disforme ficou borrado no cenário em construção.
O corpo2 desejou vingança em segredo, se calou e arquitetou planos secretos. Moldou terra, jorrou água sobre ela e construiu um sol, para que tudo ficasse lindo, e aguçasse a inveja do outro.
O corpo1 não deixou por menos, ali moldou um pomar, para que alimentasse seu porte, que revigorasse sua força e lhe agraciasse com as sombras. Entre galhos grosseiros, estendeu uma rede, para descansar o corpo-poder.
O corpo2 plasmou as flores, para que alimentasse sua mente, que revigorasse seu espírito e descansasse sua mente de vigilia . E entre as mais belas, ele anexou os espinhos, para que o outro se ferisse caso desejasse lhe roubar as flores.

E por causa do encantamento das flores e da propriedade dos frutos, corpo1 e corpo2 se uniram... para construir um muro entre eles! Corpo1 materializou os tijolos e cimento, corpo2 projetou a estrutura e calculou as dimensões. Juntos ergueram a barreira entre eles.
No cenário agora bipartido, cada qual reinando seu mundo, as dimensões foram desenvolvendo-se. O cenário se expandia na medida em que cada corpo-mente necessitava proteger o seu lado do muro, manter seus dominios.
E o muro lá permanecia sólido, significativo. Testemunhava a obra que se estendia desde sua criação.
Corpo1 manipulou os átomos, cristalizou coisas, exércitos, agricultura (para alimentar os exercitos), industria (para forjar mais armas), pessoas (para o trabalho).
Corpo2 manipulou os pensamentos, cristalizou idéias, seguidores, filosofia (para alimentar suas expectativas), teorias (para forjar mais doutrinas), pessoas (para acreditarem nele).
Ali ficaram eternamente aquelas duas forças debatendo-se, se corroendo, vingando, erguendo monumentos ao poder, matando, roubando, seduzindo, não morriam nem renasciam, mas se transfiguravam conforme se estendia o cenário...

E muita gente ali nascia e morria para dar forma e alma a todos os desejos deles. Uma multidão de rostos frágeis, disformes, uns vencidos, outros revoltados, alguns ainda emanavam inocência, e muitos nem se davam conta de sua própria existência escrava. Simplesmente ali marchavam¸ davam rumo aos projetos dos que mantinham o muro.
Corações sucumbiam, destinos morriam, juventudes corroídas, mãos mutiladas, infâncias roubadas, mentes ocupadas, sonhos desfeitos, dentes mecânicos, ossos sangue e máquinas... tudo ia sendo criado por eles e protegido pela manada que formigava ao redor do muro.
Neste cenário, governado por forças que se unificam para fragmentar o real, para que este real jamais fosse visto, entendido ou compreendido, eles moldavam o seu todo. Assim asseguravam suas existências, suas fronteiras, suas palavras, sua historia, sua herança, suas razões, seus deuses, seus jardins e seus pomares.
Neste cenário, mantido por forças que se fragmentam para iludir o real, para que este real jamais fosse encarado, enfrentado ou destituído, a manada protege o todo deles. Só assim asseguram suas existências, seus empregos, seus corpos, seus filhos, suas mulheres, suas vielas, seus semi-deuses, seus sonhos de terra, comida,liberdade.
E o muro lá, rígido, inerte... esperando que um dia alguém lhe cavocasse brechas, para espionar como lutam e sobrevivem o dono das flores, o proprietário dos pomares e os trabalhadores da terra.

O tempo gerou aqueles que habitavam em cima dos muros. Que parasitavam as relações de conflito. Podiam ser corpos e/ou mentes, conforme fosse da inteligência de sobrevivência. Mediam os tremores da terra, inventaram os sismógrafos para determinar de qual lado lutar quando o muro tremesse. Não enfrentavam as dualidades, mas sorriam para elas de acordo com seus desejos. Se destruíam, ou se criavam... pouco importava, queriam permanecer.
Até que sobreveio as abelhas. Como algo que escapasse ao poder dos donos da terra, que fugisse do medo dos trabalhadores da terra, pois que elas podiam sobrevoar todos os domínios entre o muro. As abelhas sabiam visitar as flores, sabiam sugar os frutos, e tinham veneno para dar febre ao corpo dos que construíam o muro. Não podiam destruir o muro! Não porque não acreditassem nisso, mas porque para elas o muro não tinham importância alguma, não representavam nenhuma ameaça. Sobre ele elas voavam, e deixavam seus cheiros no vento.
A colméia viva, feito pensamento novo que põe medo nas estruturas até então feitas e acreditadas, ameaçou o poder e o significado do muro. Então o senhor das flores e o imperador das árvores, novamente se uniram... para inventar os pesticidas! Disso resultou que os trabalhadores da terra agora estavam armados de bombas de venenos.

E nesta roda de criaçãodestruição, corpos, mentes, trabalhadores, flores, frutos, abelhas, giravam num contexto sem fim. Uns aprisionavam, vinham outros e libertavam, surgiam outros que reconciliavam, muitos burocratizavam, depois nasciam os que novamente separavam... todos comiam dialética, todos se movimentavam no fluxo das dualidades.

Mas ninguém ousou destruir o muro. De todos os lados, ou sobre ele, ninguém tinha coragem o suficiente de perfurar o muro e adorar tanto as flores quanto as árvores, ou mesmo escutar o zumbido das abelhas!

Cernov